III COE - II Desafio
Texto vencedor por AnaLu:
Começou
tudo por ser estranho e estupidamente simples: os olhos dela brilhavam.
Brilhavam a cada vez que ela falava, como duas lanternas pequeninas no escuro.
Eu, que não estava habituado a querer saber de miúdas, tentei fingir que ela
não era a coisa mais bonita e mais leve que eu já tinha visto na vida. O nome
dela, esse nome que eu mais tarde deixei de conseguir pronunciar, fascinou-me
tanto que eu passava os dias a escrevê-lo nos cadernos, nas mesas, nos ténis,
em toda a parte: uma actividade ultra secreta e deliciosa. Entreguei-me, tipo
prisioneiro, ao cheiro daqueles cabelos emaranhados e longos, ao riso dela,
esplêndido, a ecoar no vento enquanto caminhávamos, eu embasbacado a ser
espectador do milagre que era aquela pessoa a viver, ali ao meu lado.
Mas depois veio a dor. Foi um
aperto tão grande por dentro que pensei que o meu coração se transformava em
polpa de tomate. Foi como se de repente a minha vida se tivesse tornado num
grande silêncio que ninguém pode compreender. No meio da confusão do balneário,
depois dos jogos, deixava a água a lavar-me o suor e a vergonha de chorar no
meio de uma equipa inteira de basket, as lágrimas a serem banho, sem que
ninguém visse. Eles não sabiam nada, repetiam-me, ridículos, que passava, que
sou tão novo e há tantas outras raparigas por aí. Eu não sei se há muitas ou
poucas porque em todas vejo a cara dela. E em todas procuro aquele sorriso
grande e aquele tom de voz agudo e meigo. O nome dela passou a ser uma espécie
de chicote a magoar-me mais ainda que aquelas palavras, quero acabar. Às vezes gostava de poder voltar atrás, para que
pudesse estar junto a ela mais uma vez, nem que fosse só como amigo, como no
princípio.
Dizem-me que o tempo cura
tudo. E eu finjo que acredito. Mas cá no fundo de mim sei que sem ela nunca
mais voltarei a ser inteiro. Isto tem sido como li ontem, um solitário andar por entre a gente, a stôra a mandar-me ler o
poema, eu a querer recusar com a voz a tremer e ela, leia. Parece impossível que o único homem que consegue entender o
que eu sinto viveu há 500 anos atrás. Uma
ferida que dói e não se sente. E a minha tem um nome: Berta.