II COE - II Desafio
Texto vencedor por Brighid:

Era uma coisa pouca quando o viu pela primeira vez, uma mãozinha de gente, mal chegava a encher-lhe os braços. Logo quando ela o queria forte e luzidio tinha vindo assim tão sumido. Como se pudesse de repente voltar a não ser.
Cuidou-o. Cuidou dele como se faz com os bichos pequeninos, com muito cuidado e desvelo para não desfazer o milagre. Sorriu, chorou, alimentou, embalou e confiou. De dia e de noite. Trabalhou depressa e dormiu sem nunca fechar os olhos. Quando ele lhe sorriu pela primeira vez, sonhou…
Havia de fazer dele um príncipe. Um homem príncipe. Um homem bom. Havia de ensinar-lhe as lendas, as luas e as marés. Oferecer-lhe os cheiros, as cores e o canto que planície tem. Contar-lhe os mistérios da vida e a segurança na morte. A confiança de se ser assim - pleno. A capacidade de temer apenas a própria consciência e a voz que que habita as almofadas de menino.
Um dia, já ele corria pelos seus pés, levou-o a ver umas estrelas que estavam penduradas numa noite perto de onde moravam. Deitaram-se na erva que trazia ainda o calor da tarde e ficaram fixos ao eixo da terra. A brincar às rodas com a lua. Primeiro ele não se calava. O que era aquele barulho? E aquela sombra mais além? Depois sossegou…
- Escuta aquele piar. Está ali uma coruja das torres. Se vier alguém, ela avisa. Ouve agora mais longe. É um sapo, come os insectos que nos picam. Aquele ali a brilhar? É um pirilampo. Ajuda-te a ver o caminho. Se ele fugir e te perderes? Segues a Estrela Polar, indica o norte. Essa, a que segura o papagaio da ursa menor. Calaram-se.
- Mamã, o silêncio serve para quê?
- Para seres capaz de te ouvir se estiveres confuso e para eu te ouvir se me chamares.
- Pois, tu serves para me encontrares. E eu, mamã? Eu sirvo para quê?
Ainda hoje, no burburinho dos dias gastos pelo nada, quando vai respirar o sono do seu menino homem ela surpreende a resposta que a deixa dormir. Será verdade que esse não é o seu único propósito, mas continua a dizer-lhe sempre muito baixinho:
- Tu? Tu, meu amor, foste feito para o meu coração bater.