IV COE - V Desafio

Texto vencedor por Storm Of Life:

E aquele dia acordou com sol, depois de vários dias de chuva. Olhou-o através da janela e isso fê-la entristecer-se. Raios, de novo aquele aperto no peito.
O movimento surdo das ruas, as pessoas que caminhavam, tudo alheio, tudo ausente. Não fazia mal. Também não queria sair para aquelas ruas, nem sorrir, nem manter as conversas de cortesia. Queria isolar-me para reaprender a viver.

Era sempre assim. Tinha aquele ritual absurdo e necessário. Nos dias em que se ausentava do mundo abria-se um espaço em negro, e não tinha como preenchê-lo. E aquilo era um círculo vicioso, volta e meia e acontecia.

Segurou as pesadas cortinas e correu-as deixando a sala numa obscuridade que era mais interior que exterior.
Fechava as suas janelas para o mundo, sentava-se naquele escuridão da sala e viajava pelo seu interior.

Havia tantas formas de a resgatar dali. Tantas. E tão poucas pessoas sabiam como. Por vezes havia gente que a resgatava casualmente. Uma frase, um gesto, uma atitude fazia-a sair. Outras vezes não, ficava ali, dias seguidos, sem conseguir sair de dentro de si mesma.
Era prisioneira de um estado de alma.

Eu entrei de rompante naquele mundo dela, tão só, agoniante até. Pairava por ali mágoa de tudo e de nada.
Uma acomodada irritação acendeu-se em mim, olhei-a nos olhos, e decidi ser a última vez que a encontrava naquele estado. Arranquei aquelas pesadas cortinas, os olhos dela fecharam-se com a claridade a romper pela sala. As sombras desapareceram, e pela primeira vez, a sua imagem deu lugar à minha, reflectida num espelho.
E a última coisa que fiz, foi olhar-me no espelho como se me visse pela primeira vez.